"Tenho 52 anos, todos eles lidando com a terra.
Hoje, por incrível que pareça quem me dá dinheiro é o vento". O agricultor
Francisco Ferreira ajuda a entender o sopro de mudança que a energia eólica
representou para os proprietários das terras localizadas na região do Mato
Grande, no Rio Grande do Norte. Lá estão instalados grandes cata-ventos que
geram parte da energia consumida em todo o Brasil.
De cinco anos para cá, o Centro de
Estratégias em Recursos Naturais e Energias Renováveis (Cerne), organização
sediada no Rio Grande do
Norte, estima que o estado recebeu entre R$ 3 bilhões e R$ 4
bilhões em investimentos no setor eólico.
Cada aerogerador instalado nas terras,
dependendo da capacidade de produção, pode gerar até R$ 1.000. O valor
corresponde a um percentual da receita de cada máquina. Os contratos prevêem
pagamentos fixos por mais de 20 anos e são renováveis. Essas "fazendas
solares" chegam a ganhar R$ 60 mil por mês. Muitos aplicam os rendimentos
na agricultura.
Dinheiro reinvestido na
fazenda
Localizado nas margens da RN-120, o povoado de Queimadas, pertencente à cidade de João Câmara, é ocupado por casas humildes que dividem o cenário com centenas de aerogeradores. Em meio às ruas de terra do povoado se destaca uma casa com obras em andamento para erguer um primeiro andar. A casa é de Francisco Ferreira, que no povoado atende pelo apelido de "Nego Veio".
A reforma foi um dos frutos do dinheiro proveniente dos 25 aerogeradores instalados em suas terras. Dos equipamentos na propriedade, 20 estão gerando energia e cinco estão em construção. Os cata-ventos garantem R$ 20 mil de renda.
Nego Veio saiu de plantações de tomate,
beterraba e pimentão para receber a equipe do G1.
"Antes só tinha castanha. Agora planto tomate, pimentão, mamão, beterraba.
A chegada da eólica melhorou a minha vida. Tanto que eu posso ajudar outras
pessoas. Tenho até funcionários hoje", ressalta.
O parâmetro usado por ele para mostrar a melhora é simples. "Quando começou essa história de eólica, nosso povoado tinha cinco carros por aí. Hoje, tem mais de 30 carros", calcula.
O parâmetro usado por ele para mostrar a melhora é simples. "Quando começou essa história de eólica, nosso povoado tinha cinco carros por aí. Hoje, tem mais de 30 carros", calcula.
Além do percentual de faturamento dos
aerogeradores, Nego Veio diz que ganhou indenizações pelas linhas de
transmissão de energia que passam por seus mil hectares de terra. "Gasto
tudo em funcionário e dentro da propriedade. Comprei uma casinha e um carrinho
[uma picape] também. O resto, os genros 'comem'", brinca o pai de duas
filhas.
'Energia solar é o futuro'
A alguns quilômetros das terras de Nego Veio está a propriedade de Luzivan Venâncio da Costa, de 51 anos, que possui uma propriedade de 440 hectares.
A alguns quilômetros das terras de Nego Veio está a propriedade de Luzivan Venâncio da Costa, de 51 anos, que possui uma propriedade de 440 hectares.
Por ter 19 aerogeradores instalados nas terras, ele
recebe R$ 19 mil mensais. "Há 20 anos, cada hectare valia uns R$ 100.
Agora não vendo por menos de R$ 10 mil", afirma.
O dinheiro gerado pelos cata-ventos gigantes é reinvestido na propriedade e no estudo dos dois filhos. "São investimentos que servirão para o futuro. Realmente nem sonhava com esse tipo de coisa", conta.
O dinheiro gerado pelos cata-ventos gigantes é reinvestido na propriedade e no estudo dos dois filhos. "São investimentos que servirão para o futuro. Realmente nem sonhava com esse tipo de coisa", conta.
Na lista de melhorias estão novos acessos para a
fazenda, o aumento do rebanho, novas plantações e a produção de tilápia em
tanques. "Temos mais condições de investir na propriedade, que antes era
uma terra apenas para animais de pequeno porte", compara.
Eólica 'salvou' fazenda
"A terra estava condenada e seria vendida até que
um pessoal da prefeitura falou da energia eólica e nos reunimos com uma
empresa", relata Camilo Lins, de 26 anos.
O jovem é um dos herdeiros de Osvaldo Lins, morto em um acidente em 2010. No mesmo ano foi fechado um contrato para instalar 38 aerogeradores em suas terras. São R$ 60 mil recebidos pela produção de energia eólica.
"A fazenda de Parazinho está só com eólica mesmo. Temos propriedades em Taipu e Poço Branco também. O dinheiro foi gasto na compra de tratores, caminhões, reformei a pastagem e montei um parque de vaquejada. Toda vida mexemos com isso de fazenda. Por isso investimos nas fazendas mesmo", detalha.
O jovem é um dos herdeiros de Osvaldo Lins, morto em um acidente em 2010. No mesmo ano foi fechado um contrato para instalar 38 aerogeradores em suas terras. São R$ 60 mil recebidos pela produção de energia eólica.
"A fazenda de Parazinho está só com eólica mesmo. Temos propriedades em Taipu e Poço Branco também. O dinheiro foi gasto na compra de tratores, caminhões, reformei a pastagem e montei um parque de vaquejada. Toda vida mexemos com isso de fazenda. Por isso investimos nas fazendas mesmo", detalha.