Por Modesto Neto*

Arrombamentos em prédios comerciais e casas particulares, furtos em condomínios de estudantes e residências, assalto em agências bancárias e Correios. Essa tem sido a rotina da população de Angicos, pequena cidade do interior do Rio Grande do Norte. Nos últimos cinco anos a onda de insegurança e violência tem crescido consideravelmente, mas se acentuado com vigor entre 2014 e este começo de 2015.

Em 11 de março de 2014 eu já havia escrito e publicado um comentário no formato de artigo de opinião intitulado “Angicos: Cidade Universitária, globalização e violência”, no blog Diálogo Socialista, tratando da crescente de insegurança que vivemos nos últimos anos. Neste texto já atestávamos que a classe política local respondia de forma inábil essa problemática séria que carece de estudos estratégicos e ações estruturantes. Nós advogamos que a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) que tem um campus na cidade, debatesse com profundidade esta temática, já que as respostas oficiais dos poderes constituídos não alteraram em nada o cotidiano do povo.

No domingo desta última semana (08/03) Angicos contabilizou o primeiro homicídio de 2015. Desculpem-me o pessimismo, mas infelizmente creio que não será o último do ano. Os números comprovam quantitativamente que a insegurança cresce, cresce galopantemente. Angicos corre para se tornar em pouco tempo a cidade mais perigosa da Região Central do RN. Um adento necessário: talvez nós já sejamos a cidade mais insegura. Apenas um cruzamento de dados e um levantamento estatístico poderia apontar com precisão essa conjuntura. Quem poderia fazer esse trabalho? Sem sombra de dúvidas a UFERSA o faria com os melhores instrumentos científicos possíveis.

Nestes termos propomos a criação do Observatório da Violência que possa receber a contribuição da comunidade acadêmica da UFERSA, institutos, policias, mas, acima de tudo da população que vive o cotidiano da realidade local. Se precisarmos de inspiração para iniciar esses estudos basta observar o projeto de iniciação cientifica intitulado “As Geografias da violência e do medo no Alto Oeste Potiguar-RN” que tive a oportunidade de conhecer no Departamento de Geografia da UERN (Campus Pau dos Ferros) para termos um ponto de partida.

É evidente que a responsabilidade constitucional sobre a questão da Segurança Pública diz respeito às atribuições do Governo do Estado, mas também é claro que frente à problemática que cresce localmente é preciso cobrar das autoridades locais. Leia-se: Poder Executivo, Câmara Municipal e Ministério Público. Nossa classe política assiste os ocorridos, mas permanece inerte. O Legislativo local através da sua presidenta, Nataly Felipe, já deveria ter convocada uma audiência pública para tratar do tema. O prefeito Júnior Batista já deve pensar em encomendar uma pesquisa sobre a questão da violência e cogitar a possibilidade de instituir a Guarda Municipal. Sabemos que isso custa recursos, mas resolver problemas exigem esforços. Acompanhando esse debate já há algum tempo só tenho uma certeza concreta e inabalável: as contribuições da comunidade acadêmica e da população são e serão mais efetivas que as emitidas pelo Poder Público.

Por fim, se debater segurança é um dever de todos diante deste dilema maldito que vivemos nos últimos anos em Angicos, convidamos a todos e todas para o I Seminário Angicos em Debate, promovido pela Fundação Lauro Campos em parceria com o PSOL local, que terá como tema “Segurança Pública e Direitos Humanos: diálogos possíveis” que ocorrerá na Escola Estadual José Rufino no dia 21 de março ás 15h. Debater, propor, cobrar e aprofundar o conhecimento na área é vital, pois, superar o problema da segurança é imprescindivelmente uma tarefa coletiva.


(*) Historiador e mestrando em Ciências Sociais pela UFRN.
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