O número de pacientes com menos de 60 anos de idade que estão em leitos críticos nos hospitais do Rio Grande do Norte representa atualmente 47,66% de todos os internados.
Os números constam no Regula RN, plataforma que monitora em tempo real as internações e o perfil dos pacientes no estado. Atualmente, 112 pessoas abaixo dos 60 anos estão em leitos críticos. Os idosos hoje são123 internados.
De acordo com o epidemiologista Ion de Andrade, da UFRN, o crescimento no número de pessoas mais jovens nos leitos de UTI e
semi-intensivo foi de 60% nesses dois primeiros meses de 2021.
"O que está acontecendo atualmente é um crescimento acelerado do percentual de jovens nos internamentos. Em 25 de dezembro, nós tínhamos 28,9% dos leitos ocupados por jovens, que nesse caso significam pessoas com menos de 60 anos".
"Hoje esse percentual chega a 48% praticamente. Isso representa um crescimento de mais de 60% em dois meses da participação desses mais jovens na ocupação de leitos".
Segundo o médico epidemiologista Ion de Andrade, dois fatores contribuem para esse atual cenário: a superexposição dos jovens ao vírus, o que facilita o contágio e também a circulação, e as novas variantes.
"Essa cepa nova, a P1 (encontrada em Manaus), tudo leva a crer que produz casos de maior gravidade entre jovens, de forma que essa hipótese também é possível no sentido de que, desde dezembro, em função da chegada de milhares de turistas, nós tenhamos a circulação de um vírus que produz casos mais graves entre jovens", falou.
A facilidade no contágio também é considerada. "Essas novas variantes, de Manaus e do Rio de Janeiro, o que se vê até o momento é que elas têm uma maior transmissibilidade. Transmite entre as pessoas com maior facilidade", diz o médico infectologista Igor Queiroz.
"Então, se ela transmite mais fácil, se esses jovens estavam tendo mais aglomerações, isso facilita a transmissão entre eles, e acaba tendo um maior número de infectados".
A superexposição dos jovens também é citada pelo infectologista Igor Queiroz. "A gente vê que muitas das medidas preventivas passaram a ser desrespeitadas e foram relaxadas. Vimos no fim de ano, Natal, réveillon, veraneio, muitas aglomerações, especialmente dos jovens, onde a transmissão ocorreu com grande facilidade".
Esse dado é considerado preocupante no atual estágio em que o RN tem taxa de ocupação acima de 80% nos leitos críticos
e a Grande Natal está na casa dos 90% e praticamente sem nenhum
leito crítico à disposição.
Isso porque o maior agravamento da doença nos mais jovens
não tem substituído o perfil dos idosos nas UTIs - eles também
seguem sendo internados, o que aumenta a ocupação.
Como base de comparação, em agosto de 2020, em meio ao pico da primeira onda da Covid-19 com a superlotação dos hospitais no RN, as pessoas abaixo de 60 anos representavam 25% dos internados.
"Não significa que o quantitativo absoluto de idosos internados tenha diminuído. É por isso que há essa explosão de casos. Os idosos permanecem numerosos. E agora também os mais jovens. Isso é preocupante, porque não está havendo uma substituição dos idosos pelos jovens. Está havendo é uma chegada de um contingente maior de jovens numa proporção até aqui nunca vista", explicou o médico Ion de Andrade.
Todos os leitos foram direcionados para uma epidemiologia da doença que privilegiava os internamentos em idosos. A epidemiologia da doença começa a mudar abrindo espaço pra uma ocupação de leitos por jovens, sem que o quantitativo de idosos diminua. É como se a mancha da epidemia tivesse se ampliando do ponto de vista das faixas etárias em que a doença pode se desenvolver com gravidade"
— Ion de Andrade, epidemiologista
O epidemiologista Ion de Andrade considera que essa é mais uma "má
notícia", que se agrega à lenta vacinação contra a doença no estado e no
Brasil. O RN imunizou
2,3% da população após um mês de campanha de vacinação. O
estado recebeu
cerca de 210 mil doses de imunizantes ao todo até o momento.
"Se a população estivesse vacinada em maior percentual, é pouco
provável que nós estivéssemos sofrendo com a circulação de um novo vírus",
disse.
Para o infectologista Igor Queiroz, a forma de mudar o atual cenário passa principalmente pela conscientização coletiva. "É conscientização. A gente vê decreto para fechar bares, comércio. Se as pessoas não tiverem consciência de fazer sua própria parte, vão ser medidas tomadas em vão e a pandemia não será controlada".
G1RN