“Como estratégia não me parece justificável. Como recado aos eleitores e à militância é um desastre”, afirmou Jean Paul, ontem, em nota. Ele se referia ao que classificou como “especulações sobre a possibilidade da vaga ao Senado, na aliança liderada por Fátima, ser disputada por alguém estranho a esse projeto [do PT]”. Para o senador petista, a possibilidade, “representa um retrocesso”.
O senador Jean Paul se autodeclarou, na nota, “como pré-candidato do PT à vaga no Senado pelo Rio Grande do Norte”. Mas não citou qualquer decisão de uma instância do partido sobre a definição de pré-candidatura para as eleições deste ano. Nem a governadora se declarou, oficialmente, como pré-candidata escolhida pelo PT à reeleição. “Tenho muito a contribuir ainda neste longo caminho que é a construção de um país melhor", afirmou Jean Paul.
A reação foi diante das informações que circulam sobre a tendência que tem evoluído no diálogo entre os interlocutores designados pela governadora para tratar com o ex-prefeito. A tendência é favorável à definição no sentido de Carlos Eduardo compor na condição de candidato ao Senado na aliança com o PT. Faltaria a definição dos espaços para os demais aliados.
Fátima Bezerra precisaria também de tempo para o convencimento interno no Partido dos Trabalhadores e para costuras de seus representantes junto às legendas que devem integrar a coligação, antes de admitir publicamente essa formação na chapa.
Mas, há aliados e adversários da governadora que tiveram conhecimento de conversas recentes do ex-prefeito com o secretário-chefe da Casa Civil, Raimundo Alves. Eles não têm dúvidas de que a intenção dos que articulam com autorização de Fátima Bezerra é buscar viabilizar para Carlos Eduardo a vaga de candidato a senador. Por enquanto, a orientação dos que participam das conversas decisivas é não dar declarações públicas sobre a evolução do acordo.
O objetivo é não precipitar o anúncio para evitar constrangimentos com partidos e pré-candidatos com os quais estão em andamento conversas.
No caso do PT, um dos problemas envolve o senador Jean Paul Prates, que insiste em uma candidatura à reeleição, e afirmou também, em entrevistas recentes, que não disputaria outros cargos eletivos, além de questionar uma aliança com o ex-prefeito, que foi adversário da governadora nas eleições de 2018. Jean Paul chegou a cobrar um pedido de desculpas de Carlos Eduardo por críticas a Fátima Bezerra e ao PT, como condição para tratar de possíveis alianças.
Outro ponto que os interlocutores governistas precisam resolver é o espaço do MDB para ter o partido na composição. Nas conversas desde que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esteve em Natal sinalizam para o deputado federal Walter Alves, presidente estadual do MDB, ser candidato a vice-governador. Mas, com Carlos Eduardo Alves na vaga de senador, alguns conselheiros políticos da governadora consideram que ela deveria partir para outra solução. Mesmo assim, tentam manter diálogo com o MDB.
O problema é que a oposição também procura atrair o MDB. Se Walter Alves não ficar na vaga de vice de Fátima, pode ter motivação para aderir à coligação oposicionista.
Apesar dessas dificuldades, o discurso para justificar a coligação entre PT e PDT está em construção. Os petistas que defendem a articulação em curso afirmam que o PDT, partido ao qual Carlos Eduardo está filiado, é “de esquerda” e “neste momento histórico há uma busca por ampliar as alianças, a exemplo do que faz Lula nacionalmente”.
Apesar do PDT ter um candidato a presidente, Ciro Gomes, e o PT outro, o ex-presidente Lula, argumentam que as duas siglas sempre se comprometeram com “bandeiras progressistas”, que não estariam em contradição com o governo de Fátima Bezerra, embora o ex-governador do Ceará tenha adotado posições que avaliam como “lamentáveis e deveriam ser revistas”.
Quanto às críticas de Carlos Eduardo na campanha de 2018 e a aproximação que teve com a candidatura de Jair Bolsonaro, no segundo turno, dizem que “não se pode fazer política com rancor” e que é preciso ter a visão de que se tratava de outra conjuntura. Além disso, “em outros momentos”, afirmam, “ele se mostrou um democrata, ao dialogar com os progressistas, e percebeu o erro como muitos que agora voltaram no campo democrático”.
Tribuna do Norte