Apesar das "controvérsias e incertezas ainda existentes", os cientistas consideram que "a explosão de casos cria temporariamente uma legião de pessoas com resposta imune ao vírus" e que, mesmo a proteção sendo de curta duração, "isso significa que, por algum tempo, haverá centenas de milhares de pessoas ao mesmo tempo imunes a uma nova infecção".
Eles sugerem que uma alta cobertura vacinal associada a este cenário de número elevado de infecções — e consequentemente de resposta imune — poderia reduzir o número de casos, internações e óbitos pelo doença, e até mesmo bloquear a circulação do vírus no país, já que o número de pessoas suscetíveis à infecção seria menor, mesmo que temporariamente.
Os cientistas dizem que esse momento da pandemia pode "representar uma oportunidade de readequação do sistema de saúde para o atendimento de casos mais graves e o acompanhamento de pessoas infectadas com sintomas mais leves". E para que isso ocorra, afirmam que "é necessária a implementação de práticas de telessaúde, testagem estratégica de casos suspeitos e seus contatos, bem como o reforço de estruturas hospitalares e ambulatoriais".
"Caso o país, neste momento, intensifique a oferta de vacinas, conseguiremos, em tese, impedir a transmissibilidade do vírus de forma comunitária por algum tempo", dizem os especialistas. Para que isto ocorra, eles listam quatro estratégias de saúde:
- Garantir oportunidade de aplicação da vacina, com a disponibilidade em unidades com horário de funcionamento expandido e em postos móveis;
- Realizar busca ativa para convencer pessoas que ainda não iniciaram seus esquemas vacinais, seja por resistência motivada pelo discurso antivacina, seja por dificuldade extrema de acesso a postos de aplicação;
- Massificar a campanha de incentivo à vacinação de crianças;
- Reforçar os benefícios gerados pela correta higienização, assim como o bom uso de máscaras.
Os pesquisadores relatam no documento que a vacinação contra a Covid-19 não avançou de forma homogênea em todo o país. O alto percentual de vacinados nas regiões Sul e Sudeste não é observado em algumas áreas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, que ainda apresentam "bolsões com baixa imunização".
Estas áreas com menor cobertura vacinal, segundo os cientistas, são caracterizadas por um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) menor, populações mais jovens, menos escolarizadas, com baixa renda e residentes em cidades de pequeno porte. "Nestes locais, o fim da pandemia parece mais distante que em grandes centros como Rio de Janeiro e São Paulo, que já apresentam elevada cobertura vacinal com duas doses", ponderam os especialistas.